Saturday, March 12, 2016

Tapoli

Quando era criança eu era muito seco. Até os meus pais tinham vergonha ao me introduzir a alguém. Talvez os outros pensavam que os meus pais não me davam comida. Mas era contrário. Eles me davam bastante comida para que eu ficasse gordo, pelo menos naquela época ser gordo era coisa de saúde. Aliás até hoje também.Porque quando minha esposa foi para a Índia primeira vez, ela tinha comido um monte de porcaria tipo McDonald todo dia. Quando ela foi para a minha cidade, para a minha casa, os meus pais talvez acharam ela com saúde. Foi no ano de 2012 quando estava lá na casa do meu pai, lhe mostrei umas fotos da minha esposa. E ele me perguntou se ela estava doente porque ele achou magra. Eu lhe disse que ela estava malhando e por isso que estava magra.

As vezes o meu pai me levava para médico homeopata ou aiurvédico e eles me davam uns remédios ou algum tônico para engordar. Eu gostava de ir aos médicos, porque era nada de tomar injeção. Eu gostava dos remédios doces. Mas o efeito era nada. Eu continuava magro e magro e os meus pais continuavam me levando para médicos.

Quando me levavam para as festas de casamento, e sentávamos juntos com os colegas deles, meus pais até sentiam vergonha, porque eu comia as comidas como se tivesse comido NADA na minha vida antes.Mas eu não ligava para nada, só comia até não ter espaço na minha barriga.


Eu ficava feliz quando alguém me dizia que estava meio gordo ou meu rosto estava redondinho em vez de quadradinho.O resto do meu dia ficava bem colorido ao ouvir isto. Mas era muito raro eu ouvir essas palavras mágicas.

Quando era criança, os meus pais não eram ricos. A gente não tinha muitas roupas. Tinha bem poucas roupas e usava-as até rasgar em pedaços. Se aparecesse algum furo,ou rasgasse um pouco a minha mãe que costurava e tapava os furos. As roupas com os buracos tapados eram chamadas "tapoli mora kapur". Eu tinha duas ou três bermudas só e sempre aparecia buracos nelas, porque eu sempre subia nas árvores ou pulava cercas de vizinhos. A minha mãe sempre tapava os buracos e ela sempre usava tecido de outra cor para tapar os buracos. Se eu tinha bermuda de cor azul, era difícil de achar um tecido de cor azul para tapar o buraco, então ela usava tecido de qualquer cor para tapa-lo. As vezes as minhas bermudas ficavam bem coloridas com tantos buracos tapados com cores diferentes. Se fosse hoje seria uma moda dessa época. E eu não tinha vergonha de usá-las. Sempre mostrava para os meus amigos com orgulho dizendo que furei a minha bermuda quando corri atrás da vaca que entrou na nossa fazenda e derrubou duas bananeiras.


E quando as bermudas ficavam pequenas sem rasgar em pedaços ? Eu já disse que comprava novas bermudas só se rasgasse em pedaços ou não tinha nem um jeito para utilizar.Aliás eu raramente lembro que meus pais compravam bermudas para mim. Quando as calças sociais do meu pai ficavam pequenas e ele não conseguia mais usá-las para trabalho, a minha mãe cortava as pernas da calça e diminuía a cintura e costurava para virá-la uma bermuda nova para mim. E eu ficava sempre sempre feliz quando ganhava.Então, quando as minhas bermudas ficavam pequenas sem rasgar em pedaços, a minha mãe folgava a cintura e costurava para que eu pudesse usá-la por mais tempo.


Uma vez, eu tinha duas bermudas da mesma cor, era marrom. A minha mãe sabia que uma era meia apertada, então ela pegou-a e folgou a cintura e deixou na cama sem costurar (para arrumar depois). Quando eu voltei da escola, eu peguei-a e coloquei e fui para jogar bola numa fazenda perto. No caminho eu achei a minha bermuda caindo e me preocupei , "Meu deus, estou magro de novo". Eu fiquei muito triste e voltei para casa e deitei na cama e dormi. Só depois quando minha mãe procurou a bermuda para costurar, eu descobri o verdadeiro e fiquei feliz.

Outra vez, eu acordei um pouco tarde e fiquei atrasado para escola e corri para escola. Na escola, o dia inteiro, eu fiquei muito feliz porque estava me sentindo meio gordo porque a minha cueca estava bem apertada. Quando voltei da escola, e troquei minha roupa, eu vi que a minha irmã estava olhando para mim e chorando, porque eu usei a calcinha dela na maior pressa. A minha felicidade terminou num milissegundo.

Eu tinha oito ou nove anos naquela época.Hoje eu tenho bermudas que ficam caindo em qualquer gaveta que eu abro, de cores diferentes. Até tive que doar um monte de bermudas porque não tive lugar para guardá-las. Mas eu não tenho nem uma bermuda "Tapoli mora" que conte alguma história para mim. Sinto saudade daquela época.

Amem !!!

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